quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Análise oclusal após a remoção do aparelho ortodôntico


O trauma oclusal primário pode induzir, inicialmente, uma sintomatologia caracterizada por dor difusa, associada a um discreto aumento da mobilidade dentária, que pode durar dias, semanas e até meses. Podemos dizer que este seria o primeiro momento do trauma oclusal.

Em um segundo momento, algumas semanas depois, pode-se notar, radiograficamente, alargamento uniforme do espaço periodontal e espessamento da lâmina dura ou cortical óssea alveolar.
(Espessamento da lâmina dura)

Estas imagens radiográficas ocorrem em consequência da necessidade de fibras periodontais mais espessas e mais longas para suportarem um aumento da função, ou seja, absorver forças oclusais mais intensas; aumenta-se assim a espessura do ligamento periodontal.

Ao mesmo tempo, estas fibras periodontais maiores requerem uma inserção igualmente maior, aumentando-se a espessura da cortical óssea alveolar para suprir esta necessidade, o mesmo devendo ocorrer no cemento, mas neste não é possível se observar alterações nos exames por imagem.

Na sequência, em um terceiro momento, semanas ou meses depois, a continuidade da demanda funcional aumentada pela força oclusal excessiva promove um estiramento intenso e repetitivo das fibras periodontais, especialmente as cervicais, que se inserem na parte mais cervical da crista óssea alveolar.

(Perda óssea vertical em "V")

Radiograficamente, portanto, neste terceiro momento do trauma oclusal, adiciona-se ao quadro imaginológico a perda óssea vertical com formação de um “V” típico do trauma oclusal, formado pelo plano ósseo reabsorvido e a parede radicular.

As radiografias periapicais servem para este diagnóstico, mas as interproximais são mais precisas. Por maior que seja a perda óssea vertical nesta área, a sondagem periodontal não revelará bolsa periodontal.

Neste terceiro momento, mesmo com a perda óssea vertical no espaço interdentário, não haverá bolsa periodontal, mas na face vestibular pode-se notar, clinicamente, que o contorno gengival vai acompanhando o contorno ósseo vestibular, tendo como conseqüência as recessões gengivais em forma de “V” ou angulares nos dentes em trauma oclusal e com deiscências ósseas.

Clinicamente, neste terceiro momento, têm-se um discreto aumento da mobilidade dentária, facetas de desgaste oclusal ou incisal e a presença de recessões em forma de “V”, mas um quarto sinal pode ser adicionado: a abfração.

O esmalte não consegue acompanhar as deformações excessivas que as forças oclusais impõem à dentina. Esta dissonância entre o esmalte e a dentina na absorção das forças excessivas promove microfraturas adamantinas na região cervical com perda de pequenos fragmentos e microexposições de dentina. A abfração acrescenta ao quadro clínico de trauma oclusal a perda cervical do esmalte e a sensibilidade aumentada frente aos fatores bucais variáveis como alimentação, líquidos, respiração, temperatura e outros.

Finalmente, no quarto momento do trauma oclusal, depois de muitos meses e até anos de persistência das forças oclusais excessivas, o osso periférico à cortical óssea alveolar, ou lâmina dura, gradativamente espessa suas trabéculas e áreas de esclerose aparecem ao redor da raiz afetada, distribuídas de forma irregular ou concentrada na lateral e ou na região apical.

Haverá, a partir deste momento, uma agressão cada vez maior e direta sobre as estruturas periodontais, com prováveis danos focais à camada de cementoblastos que protegem as raízes da reabsorção por sua falta de receptores de membrana para os mediadores da reabsorção óssea. Nestas regiões da superfície, micro-áreas de reabsorção radicular ocorrem, se somam e gradativamente se expressam como imagens radiográficas.

(Danos aos cementoblastos, levando à reabsorção radicular)

O desconforto sintomatológico nem sempre está presente e em muitos casos o paciente acomoda-se; o trauma oclusal, por ser subclínico, pode evoluir silenciosamente para consequências mais graves.

Três questionamentos fundamentais
1º)  Quantos profissionais depois de “completado” o tratamento ortodôntico fazem uma análise oclusal, avaliam as possíveis interferências e promovem os ajustes necessários para o paciente ter alta com uma oclusão minimamente aceitável?
2º) Quantos acreditam que isto não seja necessário porque ao longo de seis meses pós-tratamento ortodôntico haverá um ajuste oclusal acomodativo e natural?
3º) Qual a prioridade da Ortodontia: a estética ou a função?

Uma análise oclusal criteriosa deve fazer parte, ou melhor, faz parte do tratamento ortodôntico e apenas depois de uma oclusão normal obtida o paciente deve receber alta e o caso ser considerado completado, pois parece lógico que a função deve prevalecer sobre a estética.
.:.

Dr. George Bueno
Cirurgião-dentista e Ortodontista
georgenbueno@gmail.com

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...